
O geógrafo e antropólogo Friederich Ratzel é considerado um dos “pais” da Geopolítica Moderna. Nascido na cidade de Karlsruhe, na Alemanha, em 1844, interessou-se desde muito jovem pela Geografia e também pelas Ciências Naturais, tendo estudado ambas na Universidade de Munique, onde graduou-se em 1867. Seu interesse por uma explicação científica para a formação e desenvolvimento das sociedades humanas foi um dos principais focos de seus estudos.
Um dos primeiros e mais importantes trabalhos foi o livro Antropogeografia, publicado em 1882, considerado por muitos estudiosos como sendo o “livro fundador” da Geografia Humana. Nessa obra, Ratzel trata das relações entre o ambiente físico (geografia) e as características sócio-culturais de um povo e descreve como a o meio ambiente influencia de maneira decisiva na na formação das sociedades e na formação territorial dos Estados.
Desse modo, Ratzel conclui que o desenvolvimento político, social, econômico e cultural de uma civilização está profundamente ligado às suas características geográficas, tais como o clima, o relevo, e os recursos naturais disponíveis. Para Ratzel, a Geografia não era apenas uma ciência que deveria se ocupar do mapeamento e da descrição do espaço geográfico, mas também deveria estudar a dinâmica entre o ambiente e as populações que nele vivem.
No entanto, foi em sua obra Geografia Política (1897) que Ratzel deu a sua mais importante contribuição à Geopolítica : a elaboração e a definição do conceito de Espaço Vital ( ou Lebensraum, do original em alemão). Neste conceito, Ratzel argumentava que os Estados são semelhantes aos organismos vivos e que, portanto, necessitam território adequado (espaço vital) para realizarem o seu crescimento e sua sobrevivência.
O Lebensraum pode ser melhor entendido analisando-se três aspectos:
- Necessidade de expansão territorial: de acordo com Ratzel as nações necessitam de espaço para crescer e properar. Assim, ele afirmava que que o espaço geográfico de Estado deveria ser dinâmico, sendo a expansão uma necessidade natural para a garantia do desenvolvimento econômico, político e social da nação.
- Relação entre território e cultura : Ratzel argumentava que o espaço vital não estava ligado apenas à base física e territorial de um Estado, mas também à identidade, à cultura e aos costumes de uma nação. Assim, afirmava que povos com a mesma identidade cultural deveriam estar sob a tutela do mesmo Estado.
- Crescimento natural das nações: Ratzel ensinava que as nações, à semelhança dos organismos vivos, também necessitam se adaptar ao ambiente em que encontram-se inseridos, a fim de garantir um melhor desenvolvimento e sobrevivência. Em suma, a “vitalidade” e a “saúde” de um Estado estavam intimamente ligadas ao controle do seu território.
O pensamento de Ratzel influenciou fortemente a teoria das fronteiras e os estudos sobre o imperialismo e o colonialismo nas primeiras décadas do século XX. Todavia, sua obra e o seu legado são envolvidos em controvérsias. Friederich Ratzel não era um defensor do imperialismo militar, apesar de seu conceito sobre o Espaço Vital haver sido utilizado pela Alemanha nazista. O foco de seu trabalho era basicamente era a relação do Estado com o seu território e a busca do entendimento da dinâmica dessas relações em uma conjuntura política. Mesmo assim, suas ideias foram distorcidas por pensadores ligados ao Partido Nazista, como Karl Haushofer, para justificar as políticas agressivas, racistas e expansionistas da Alemanha no período anterior à 2ª Guerra Mundial.
Além de ter possibilitado uma visão imperialista e agressiva dos conceitos relativos ao Espaço Vital, a obra de Ratzer também gerou (e ainda gera) diversas críticas entre os pensadores geopolíticos contemporâneos. Dentre as principais criticas à sua obra, destacam-se:
- Determinismo geográfico: ao descrever que o espaço geográfico em que uma nação encontra-se inserida é um fator determinante para o o seu desenvolvimento político, econômico e sócio-cultural, Ratzer apresenta uma visão limitada da dinâmica internacional e não leva em conta aspectos como a vontade nacional, a tecnologia e as relações internacionais.
- Simplificação das Relações Internacionais: Em sua tentativa de demonstrar a sua tese de que o Estado seria um organismo vivo, e portanto, sujeito às leis da biologia, Ratzel ignora o papel da diplomacia, das alianças, das ideias e da persuassão. Além disso, em um planeta onde o espaço territorial é finito, ele não explica como as nações poderiam se adaptar para obterem sua sobrevivência sem a necessidade de se expandirem territorialmente de forma contínua.
- Não observância dos fatores humanos e psicossociais: A Teoria do Espaço Vital sugere que os fatores geográficos (posição geográfica, relevo, clima, hidrografia) seriam os principais fatores a determinar o poder de uma nação. Nesse contexto, Ratzel minimiza e não considera adequadamente os fatores humanos, históricos e culturais que contribuem sobremaneira para a formação de uma sociedade.
Apesar de todas as críticas e das consequências nefastas da distorção de seus conceitos, a obra de Friederich Ratzel foi fundamental para o desenvolvimento da Geografia e do estudo das relações entre o território e os seres humanos que o habitam. Suas contribuições para o estudo da Geopolítica continuam a ser reconhecidas como sendo fundamentais para o entendimento das interações entre o espaço geográfico, o poder e os aspectos humanos, políticos e culturais de uma nação.
E você ? Qual o seu pensamento obra de Friederich Ratzel ? Quais foram os seus principais acertos ? E seus principais equívocos ? Algum aspecto de suas ideias podem ser visualizados atualmente no relacionamento entre os países ? Compartilhe a sua opinião nos comentários !
No próximo artigo, vamos conhecer um pouco mais sobre Karl Haushofer, o homem que distorceu a Teoria do Espaço Vital para adequá-la à ideologia nazista.
Até breve !